sábado, 5 de abril de 2014

Yaiba: Ninja Gaiden Z

Em algum momento entre o anúncio e o lançamento de Yaiba, ele se perdeu. Toda a empolgação de experimentar um spin-off de Ninja Gaiden dirigido por Keiji Inafune, dura exatos 15 minutos de uma demonstração de jogo da E3. E mesmo dentro desse período, cheio de ressalvas, principalmente relacionadas ao seu humor duvidoso. Mas Yaiba: Ninja Gaiden Z foi lançado, e ficamos sem saber se ele é um Ninja Gaiden que deu (absurdamente) errado ou só um jogo de ação medíocre.   Ninja Gaiden, mesmo?   Alguém deveria ligar agora para a Spark Unlimited e a Comcept e pedir, encarecidamente, que retirassem o nome Ninja Gaiden Z do título do game. Em nada, absolutamente nada o game pode ser comparado a aventura de Ryu Hayabusa com seus inimigos desafiadores e combos cheios de ginga nipônica.   O visual exagerado e colorido de Yaiba é uma afronta a qualquer tipo de etiqueta ninja criada pela série original. Ele anima no começo (eu realmente gosto do cel shading aplicado nesse jogo), mas depois fica tão carregado que, misturado a trilha sonora eletrônica que o acompanha, parece nos fazer voltar no tempo até aquela época que poucos gostam (ou tem coragem) de se lembrar, a dos famigerados clubblers. 



Zumbis caricatos também não ajudam muito. Não sou um daqueles fãs da comédia bobinha e mais ou menos escatológica. Pelo menos não em todos os casos. Yaiba não parecia ser um desses, e talvez por essa razão as coisas tenham ficado tão "falsas". Os zumbis-comédia apresentados são extremamente de mau gosto. A falta de "seriedade" nos vilões, na trama e no próprio protagonista deixaram todo o jogo mais raso que um pires e sem um pingo de identidade, seja por parte da Tecmo Koei ou do próprio Inafune. Não que o original seja uma réplica shakesperiana, não é isso que quero dizer, mas sim que o tom da história podia ser mais "cool" e menos babaca.   Parece aquela situação cômica encontrada em jogos como Dead Rising, mas ao contrário do game da Capcom, que são situações criadas pelo próprio jogador e a liberdade com que ele pode manipular as coisas que o cerca (se vestir da forma que quiser, por exemplo), força o papel do ridículo através de situações do próprio jogo, nada divertidas como uma "chuva de calcinhas", ou zumbis motoristas. As únicas partes que podemos realmente dizer "isso é Ninja Gaiden" são as cutscenes de início e quase final do jogo, em que Yaiba e Ryu se enfrentam violentamente - a cutsecen próxima do final é tão sensacional que eu vou deixar aqui, caso alguém queira ver e não jogar todo o game.





História...?   Yaiba é um ninja fugitivo, pertencente ao clã Kamikaze e que tem Ryu Hayabusa no seu encalço, contratado por sua própria "família". Acontece que o Clã Kamikaze tem essa espada secular, um tesouro bastante importante e que atualmente está nas costas de Yaiba. A missão de Ryu é recuperar essa espada, mas Yaiba é um daqueles caras que gosta do sangue jorrando e da tensão da batalha. A luta foi rápida e Ryu levou a melhor.    O resto da trama é toda sem pé nem cabeça, envolve uma jovem cientista ninfomaníaca e super inteligente, um empresário inescrupuloso que visa o lucro em primeiro lugar, zumbis criados "acidentalmente" e até mesmo alguns alienígenas, sério. E temos Ryu, que começou seguindo Yaiba, mas depois partiu para a investigação de todo esse lance zumbi, procurando uma maneira de salvar o mundo. E depois que Yaiba é reconstruído, o único propósito da sua existência é a vingança contra o ninja do clã Hayabusa. É uma história ruim e não melhora.   Tirando Ryu, que eventualmente somos obrigados a enfrentar - em uma batalha injusta e muito desigual, exatamente como todos os inimigos de NG devem ser -, o restante dos chefes de fases e demais adversários não passam de "sub-chefes" sem um real propósito. O palhaço que suamos para matar na primeira fase aparece em dobro na segunda. Isso acontece com todos os chefes, deixando as próximas fases com cara de anteriores.   Sem respeito pelo inimigo




Nada de florzinha na cabeça: Yaiba é um quase um passeio no parque. Parece difícil no começo, mas é questão de pegar o jeito do "parry" e saber cadenciar seus ataques. São três ao todo: golpes fracos de espada e um tipo de chicote (feito do próprio braço biônico), e um ataque mais violento com o seu novo braço biônico. E não existe pulo (como assim!!!) no jogo.   A variedade de combos é alta, mas a eficiência dos mesmos, duvidosa. Alguns são obviamente mais fáceis de serem usados em diversas situações, mas tenha em mente que o seu leque de opções é reconfortante. A parte ruim é que os movimentos do personagem, apesar de expressivos visualmente, cheio de animações bem bacanas, são inexpressivos quando precisam te dar a o feedback do impacto. Quando estamos cercados de inimigos e até perdemos Yaiba de vista, ficamos sem saber direito se estamos batendo ou apanhando.   A mecânica de parry é bastante útil, principalmente quando evoluída ao máximo, mas é muito difícil se tornar um mestre da artimanha. Ataques normais são extremamente difíceis de serem bloqueados com perfeição, diferentemente do que acontece com projéteis lançados contra você. Use e abuse do slowdown proporcionado pelo parry nessas situações. 



O sistema de ataques elementais do jogo é legal. São três tipos: elétricos, "gosmentos" (ou tóxicos) e flamejantes. Cada um deles funciona melhor quando usados entre si, graças ao sistema secundário de "armas" do jogo. Desmembrando certos inimigos, você cria novos equipamentos para Yaiba.    Um chicote elétrico feito da medula de um determinado zumbi é extremamente eficiente contra um zumbi tóxico (one hit kill), cabeças cuspidoras de fogo podem eliminar hordas de zumbis elétricos com um único disparo e nunchakus montados a partir de braços arrancados de zumbis palhaços são eficientes contra quaisquer tipos de inimigos. É legal, mas limitado a três armas elementais o jogo inteiro.   A diversão proposta pelo combate dura pouco. Menos ainda dentro do sistema de fases do jogo. Ao contrário da liberdade de cenário proposta nos demais Ninja Gaiden, Yaiba sempre o prende em áreas tipo arena, e só conseguimos prosseguir após eliminarmos todas as ameaças da fase. A sequência da fase acontece por ações em QTE de qualidade duvidosa. O pior é quando o QTE acompanha trechos de plataforma os quais precisamos esperar o momento certo para continuar. O lance todo é problemático porque essas coisas acontecem meio do nada, e provavelmente você será obrigado a repetir o trecho pelo menos uma vez.




As notas por área dadas ao jogador tentam fazer a gente se importar com os pontos de experiência. Mas isso é esquecido assim que conquistamos o nível máximo do personagem (o que acontece pouco antes da quinta fase, talvez), com todas as habilidades destravadas e evoluídas. Daí em diante o jogo "trava" e quaisquer chances de futuras mudanças do seu personagem deixam de existir.   A câmera fixa no alto ajuda a resolver as constantes reclamações do estilo livre dos outros jogos da série, mas ao mesmo tempo cria novos problemas ao jogador. Em determinados momentos o zoom out é tão grande que fica difícil até encontrar o seu personagem no meio de tanta confusão. As lutas contra mais de um gigante ao mesmo tempo são as mais problemáticas nesse sentido.   Tinha muita curiosidade em conhecer Yaiba: Ninja Gaiden Z. No fim, não consegui vislumbrar nada de Inafune ou Team Ninja no game. Perdido nele mesmo, não é Ninja Gaiden, tampouco um bom jogo de ação. (E como a luta contra o último chefe é chata, meu deus!)

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